domingo, 6 de maio de 2018

O indizível sentido do amor – de Rosângela Vieira Rocha


 Por Adriane Garcia

Ainda nem tinha terminado de ler O indizível sentido do amor (ed. Patuá), romance de Rosângela Vieira Rocha e já estava com vontade de falar sobre ele.

O livro conta uma história que nos inquieta pelo que tem de comovente, de histórico, de relato daquelas situações particulares que se abrem para o universal, pois a leitora/o leitor reconhece o cenário, o contexto, os sentimentos e passa a caminhar junto com Nita e seu marido morto, prisioneiro político torturado pela ditadura militar instalada no Brasil em 1964.

Como sugerido no título, o romance de Rosângela Vieira Rocha é uma história de amor, mas não o amor edulcorado ou romântico que muito mais se assemelha à paixão ou ao fingimento, o amor que nos relata a autora, por meio de sua protagonista, é o amor real entre duas pessoas, com personalidades muito próprias, que precisam lidar com a violência do passado, o silêncio e a sobrevivência diária.

Em O indizível sentido do amor, Rosângela, com muita competência, faz com que nos deparemos com os horrores de uma ditadura, leva-nos ao presídio da Ilha Grande, transporta-nos até os dias de hoje, quando tantos direitos conquistados vão sendo perdidos, desperta nossa empatia para um personagem que tem sua vida redirecionada e, de certa forma, destruída, por atentados à dignidade humana que nenhum Estado jamais conseguiria indenizar.

Um livro bonito e envolvente em que, em meio à dureza de uma história que envolve o horror, a doença e a morte, a autora mostra a supremacia do amor, esse que é o sentimento mais subversivo do mundo.


Onde estará o meu filho? Por que não dá notícias? Há meses não sabemos nada sobre ele, apenas que deixou a universidade. Eu quero achar o meu filho de qualquer maneira. Estou cansada de esperar notícias, exausta de tanto ouvir mentiras, fofocas, saber de falsos indícios, seguir pistas mentirosas. Só quero isso, encontrar o meu filho. É pedir demais? Aquele ingrato sabe que seu pai e eu estamos preocupados e nada de dar um telefonema, mandar um recado. O que terá acontecido? A cada dia que passa fico mais angustiada com todas essas histórias de prisões que temos escutado. Será que está preso? Mas onde? Em que cidade? Em que cadeia?” (p. 122/123)

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O indizível sentido do amor
Rosângela Vieira Rocha
Ed. Patuá
2017


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