segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Patos selvagens, de Samuel Medina




"Por que contar histórias, Samuel?

Antes de tudo, para viver melhor."

Simples assim, O Samuel Medina, que é uma pessoa simples, responde a uma entrevista para a Editora Aletria. Do Samuel eu li o livro  Patos Selvagens, um conto de fadas. Um conto de fadas inventado por ele, uma história de amor, maldição e morte, luta e esperança, capaz de prender a atenção na leitura do início ao fim. Minha filha de 11 anos também leu, E tanto gostou.

Eu, do meu lado, enquanto viajava com Deon, um jovem lenhador e acompanhava primeiramente sua solidão e depois sua angústia . Que não sabia se a maldição de sua esposa morrer no parto seria quebrada ou não (e me surpreendi) concomitantemente pensava no talento deste Samuel Medina, na importância dele continuar o fio dos contos de fada, do quanto os contos de fada podem estar para sempre nos importando.

À altura de grandes escritores neste tipo de narrativa, o Samuel, este menino simples que se senta nas bibliotecas para plateias de crianças, lendo, interpretando várias histórias de nossa melhor literatura, mostra que escrever uma boa história, de um modo simples e fluido, cumpre com aquilo que ele, leitor, ganhou quando o fizeram assim para ele: fantasia, contato consigo e emoções só ali despertadas, reflexão, conflito, prazer.

Um livro que não subestima a capacidade do leitor, infanto-juvenil ou adulto; um livro que acredita que somos capazes de suportar as palavras, e somos. Não o amortecimento dos contos de fadas já alterados pela cristandade, omitindo e amaciando a crueldade em nossas vidas, disfarçando que quem queria matar Branca de Neve era sua madrasta e não sua mãe. Medina dá continuidade ao conto de fada medieval, onde as florestas são mais escuras e a força exigida não conta com os efeitos tão bonitos da Disney (que por sinal gosto muito também).

"Mas algo assolava aquela gente e ninguém sabia precisar quando ao certo as coisas começaram a dar errado. Há quem diga que foi numa noite em que um grande temporal fez o rio transbordar, inundando toda a parte baixa da vila, levando famílias inteiras. Outros acreditam ter sido após um terrível inverno que matou o gado aos montes. O que se sabe com certeza é que as pessoas começaram a comentar quando a primeira mulher da família morreu."

Fim das contas, há uma suspeita de que procuramos leitores parecidos conosco.

Leiam, é para os simples de coração. E os exigentes da boa literatura.


Patos Selvagens
Editora Baobá, BH, 2014
Disponíveis para venda também com o autor.

Entrevista com o autor: http://www.aletria.com.br/blog/interna.php?pagina=54#opiniao