sábado, 28 de setembro de 2013

Novella, de Sérgio Fantini






Novella, de Sérgio Fantini, editora Jovens Escribas, 2013.

Terminei ontem, à noite, a leitura de Novella, de Sérgio Fantini.  Terminei sem querer que o livro acabasse. Ou, terminei pensando: “já acabou?”. Um professor de teatro, certa vez, disse-me que essa sensação era uma das maneiras de identificar se um peça era boa: nas ruins a gente fica se perguntando o contrário: “nossa! Será que falta muito para acabar?”
Pois é. O autor mineiro, Sérgio Fantini, oferece-nos contos que remetem a uma juventude onde os personagens estão vivendo sua cultura etária, envolvendo a música, a curiosidade e o escape da angústia através das drogas, a busca, quase sempre sofrível, do sexo, a presença constante da solidão, a procura do amor. E, conjuntamente, contos cujos personagens são crianças, adultos e velhos, imersos na frustração, na solidão e na mesma busca. Aliás, o amor, desejado e frustrante, permeará praticamente todo o livro, num jogo hábil e criativo do escritor.
E foi esse jogo hábil que foi crescendo no livro, visto que é sem dúvida, um livro que cresce. A organização dos títulos foi crucial para que continuássemos lendo, com avidez. A forma literária, o trabalho de forma com que o autor se esmerou, ia-nos mostrando, além das histórias por si, o gosto de quem quer descobrir mais que elas. Talento. Levava-nos Fantini, a um ápice.
Novella, ele explica, são histórias vividas sempre pelos mesmos personagens (como acontece às novelas televisivas). Mas aqui, obviamente – pois estamos falando de literatura – nada está pasteurizado, a complexidade da vida quase a nos deixar sem fôlego, pois identificando-a nos personagens e situações lidas, ficamos a nos perguntar sobre um modo para viver alguma plenitude. Humanizados, os personagens de Fantini nos reforçam o compreender. E esse é um outro critério (pessoal) que eu, como leitora, uso para identificar se um livro é bom.
Num determinado momento, em Dorinha, Sérgio Fantini constrói, em Novella, um conto feliz e, de propósito, muito sutilmente, gera um incômodo no leitor. Ao fim, o autor mesmo nos adverte com uma frase de Bráulio Tavares: “As histórias felizes não nos satisfazem porque sabemos serem intrinsecamente falsas...”
Certamente, para mim, ainda houve o deleite de passear por minha cidade, Belo Horizonte, de reconhecer esse território/cenário e então, trazer ainda para mais perto, alguns dos contos. Mas quase ao fim (ah! Como adoro os livros impiedosos!), as suposições feitas a respeito de uma mulher, de uma relação amorosa, a partir de Maria, sempre uma outra Maria e sempre a mesma; vários contos a deixar-nos assim boquiabertos sem saber se ela é real ou imaginária, se elas são reais ou imaginárias e saber que o próprio lirismo cresce a partir da incompletude dessa relação, dessas... ah! Eu não queria mesmo que o livro acabasse.
Mas Sérgio Fantini soube a medida exata para encerrar: o auge. E é com o gênero supremo, a poesia, que finaliza.